Boletim nº 44 - 18 de Julho de 2021
A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida. (pv 13.12)
por Rev. Renato Souza Prates
O ser humano constantemente é confrontado com um dos seus maiores desafios: a esperança. Esta se constitui num desafio por sua própria essência, que é a expectativa otimista em relação ao que se almeja. Sendo assim, a esperança desafia o ser humano a um aprendizado paciente, e mobiliza-o a trabalhar em prol da realização de seus sonhos por alcançar. Ter paciência para esperar contradiz o espírito humano moderno, que é tendente ao ativismo, sempre em busca de maiores conquistas e desafios que estas implicam, tornando este homem moderno inquieto e entregue a satisfação imediata de seus desejos. Contudo, a inquietude pela esperança adiada, que é acentuada em nossa geração, não se constitui apenas como um mal moderno, já que a humanidade tem sido sua vítima desde o início dos séculos, como relata as Escrituras Sagradas.
Quando se atenta para os escritos veterotestamentários, sobretudo nos relatos sobre a história de Abraão, na expressão de Hebreus o “Pai da Fé”, observa-se ali as aflições vividas por este importante personagem bíblico e sua esposa Sara, na expectativa de que a promessa divina de gerarem um herdeiro, a partir de quem uma nação haveria de nascer, constituindo o povo de Israel, povo escolhido por Deus, que seria como as estrelas do céu e a areia do mar, se cumprisse. O Senhor fez tal promessa; contudo, o tempo passara, e tempo para Abraão - até o momento apenas Abrão - e Sara, se configurava em envelhecer mais ainda, e ver o cumprimento de suas esperanças se diluir a cada ano, já que quando Abraão recebeu a promessa, tinha setenta e cinco anos. Ainda outros fatores colaboravam diretamente para a frustração e o aumento da ansiedade do casal, como a possibilidade de ter como herdeiro um serviçal de sua casa, Eliézer; ou ainda, um filho gerado fora da união: Ismael.
O relato bíblico de Gênesis 17:15-19, ainda revela um momento de crise bem mais intenso vivido por Abraão, quando ele recebe uma renovação da promessa recebida da parte do Senhor, declarando que Sara geraria um herdeiro que cumpriria a esperança que se tardava, mas ri diante do oráculo divino, quase que, desprezando por completo, a bênção de Adonai. Contudo, o Senhor visitou a Sara e esta deu à luz a Isaque, o filho da promessa, e a esperança que parecia tardar, foi cumprida, no tempo exato, como diz Gênesis 21.2.
Quando Provérbios 13.12 declara que “A esperança que se adia faz adoecer o coração”, o verso trata de uma realidade pertinente à natureza humana que, sendo limitada, e impossibilitada de perscrutar os eternos desígnios de Deus, fica exposta às solicitudes da sua alma, que a cada dia mais se torna imediatista. É por reconhecer esta limitação que no salmo 119, versos 81-83, o poeta sacro é enfático e autêntico em expor os males causados pela sua esperança adiada, chegando a declarar que sua alma “desfalece”, os seus olhos “esmorecem”, e sua alma já se tornou como “um odre de fumaça”, levando-o ao fundo do poço da inquietude humana. Contudo, mesmo diante de tanta vicissitude, o salmista declara em alto e bom som que, sua esperança está viva, e que ele não se esqueceu dos eternos decretos divinos, que certamente se cumprirão, satisfazendo por completo sua expectativa.
Quando observamos a parte final de Provérbios 13.12, vemos ali a conclusão da expressão de confiança que moveu a declaração de fé do salmista, no Salmo 119.82 que citamos “o desejo cumprido é árvore de vida”. Aqui, a resposta divina que é sempre certa, e no tempo determinado, é comprovada como uma realização que promove paz, alegria e satisfação plena, pois a esperança se consumou, como declara Provérbios 13.19, quando afirma que o desejo cumprido “agrada a alma”.
Contudo, é preciso lembrar que a esperança na plenitude da vida eterna, não deve provocar naqueles que nela crêem uma estagnação, uma passividade que os imobilize fazendo-os aguardar apenas por uma futura salvação, um novo céu e uma nova terra, onde todos os seus problemas serão solucionados. Esta esperança magna deve provocar sim, uma intensa satisfação que dinamizará toda a caminhada terrena da humanidade, fazendo-a produtiva, no sentido de realizar seus sonhos mais nobres, que consolidarão uma vida plena de total entrega pelo próximo, servindo-o através do amor, que é a razão maior da vida.
A fragilidade da esperança humana pode fazê-lo lamentar, blasfemar, desistir, se arrepender, se frustrar, desanimar, retornar, se irar, ofender, e adoecer; mas a viva esperança na fidelidade de Deus, que é capaz de conceder o melhor para a humanidade, através de seu fruto que é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, e domínio próprio, deve ser a nossa maior esperança. Só através dela temos a oportunidade de participar da “árvore da vida”.
Aos domingos, as mensagens são diferentes, selecionadas de outras fontes. Hoje, o terceiro estudo de uma série de seis estudos de Romeu Bornelli ensinando sobre Cristo e a Igreja.
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